(Sérgio Rodrigues - escritor,  jornalista e crítico literário)
  
  “Já fui corrigido algumas vezes por usar a  palavra ‘homossexualismo’, por pessoas (em geral  gays) que dizem que ‘ismo’ tem sentido de  doença e que ‘homossexualidade’ é  o termo certo. Isso tem fundamento? Uso a palavra  ‘homossexualismo’ sem maldade, por  julgá-la de uso generalizado.” (Paulo  Rogério de Lima)
  
  A questão é uma daquelas em que – como  no caso de presidente x presidenta e de americano x  estadunidense – a língua vira um campo de  batalha. O combate pode envolver diversos tipos de argumento  – linguísticos, históricos,  etimológicos, científicos – mas eles  não passam de armas. O que está em jogo para  valer é uma questão política.
  
  Sim, ao ser cunhada, naquele ambiente infestado de ideias  pseudocientíficas de fins do século 19, a  palavra homossexualismo vinha impregnada de  conotações médicas, patológicas.  Incrivelmente, só em 1990 a Organização  Mundial de Saúde a excluiu de sua lista de  distúrbios mentais.
  
  Não, a palavra homossexualismo, ao longo da  história, não ficou presa a essa primeira  acepção. O sufixo de origem grega  ‘ismo’, além de denotar  “condição patológica”,  é o mesmo que usamos para indicar “doutrina,  escola, teoria ou princípio artístico,  filosófico, político ou religioso”;  “ato, prática ou resultado”;  “peculiaridade”; “ação,  conduta, hábito, ou qualidade  característica” (Aurélio). Como se  vê, o termo homossexualismo pode soar inocente e  até positivo, como turismo, patriotismo, lirismo,  escotismo etc. E o que dizer das conotações  negativas de ruindade, fealdade, crueldade, calamidade,  orfandade – “parentes” sufixais de  homossexualidade?
  
  Naturalmente, os adversários do uso de  “homossexualismo” argumentam que nada disso  importa, pois o que está em questão é  uma luta simbólica. Ao transformar a palavra em  ícone de tudo o que é preconceituoso e  opressivo contra os gays, tomando-a ao pé da letra de  seu pecado original, provoca-se um estranhamento que  desperta consciências. Se, em vez de homossexualidade,  o vocábulo proposto para seu lugar fosse  “maracujá”, o efeito seria o mesmo. Para  não mencionar que, sendo homossexualismo um termo  típico do Brasil, pouco usado em Portugal, há  quem imagine que só por isso já deve ter algum  problema…
  
  No entanto, os defensores de “homossexualismo”  podem não ficar convencidos. Talvez alertem  então para o exagero de uma condenação  tão sumária: não haveria o risco de,  criminalizando-se um uso bem intencionado, alienar as  pessoas em vez de sensibilizá-las para uma causa  justa? Isso não é um pouco como inventar o  inimigo para justificar uma guerra declarada de  antemão? E sendo os usos linguísticos  tão notoriamente impermeáveis a qualquer tipo  de regulamentação, não valeria a pena  poupar a energia desse combate para empregá-la em  outras frentes da guerra contra o preconceito e a  intolerância à diferença?
  
  A esta altura, claro, já entramos faz tempo no  terreno da política. O fato é que as duas  palavras estão no dicionário. O resto é  com você.
  
  Você usa a palavra “homossexualismo” ou  “homossexualidade”?
  
  http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/consultorio/homossexualismo-ou-homossexualidade/
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Homossexualismo ou homossexualidade?
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