Percebi, se não estou          enganado, que          você considera como principal problema a ser enfrentado por uma          pastoral          comunitária a falta de respostas adequadas aos questionamentos          apresentados.          Certamente o despreparo das famílias e das comunidades de fé          para lidar com          algumas questões é preocupante.
          No entanto, fico a pensar que é tão ou mais danoso ao          amadurecimento da fé (e          da imagem de Deus) a inclinação de famílias e comunidades de fé          para oferecer          respostas prontas, certas e muitas vezes fechadas ao diálogo.          Penso que há um          caminho árduo e com resultados recompensadores que tem sido          desprezado: o da          construção do conhecimento de Deus pela experimentação pessoal          da          fé. Explicando em partes: 
          
          Construção: acho que o adolescente (principalmente ele, mas, de          uma forma          geral, todos nós também) carece de um espaço de reflexão sobre a          fé          "herdada" das gerações anteriores. O adolescente precisa          construir          sua própria fé, por mais doloroso que isso possa ser para ele e          para aqueles que          o cercam. Isso implica perguntar, indagar, questionar, duvidar e          colocar em          cheque todo seu sistema de fé, até então meramente copiado dos          adultos que lhe          serviram de referência.
          
          Acontece que muitos dos adultos que deveriam lidar com tudo isso          e agir como          parceiros nessa construção são, eles mesmos, inseguros, têm          pouca habilidade          para interagir com questionamentos e foram ensinados a agir com          guardiões da          verdade, reprimindo todo e qualquer atitude que se pareça como          ameaça ao status            quo religioso que defedem.
          
          No entanto, o único caminho para alguém se apropriar da fé,          transformando-a em          pessoal, é testá-la ele mesmo, esticá-la e virá-la pelo avesso          até que ela se          torne sua; caso contrário, será sempre a fé de outrem e estará          sempre a um          passo de ser abandonada.
          
          Conhecimento de Deus: aqui acho que temos também um longo          caminho a percorrer.          Digo isso porque entendo que muitos de nós nos tornarmos experts em          conhecimento SOBRE Deus, mas ignorantes quanto ao conhecimento          DE Deus. Deus          tem sido esquadrinhado, não experimentado; Ele é uma explicação          (às vezes          tosca), não uma companhia na caminhada.
          
          Quando nos propomos a "encher" a mente de jovens e adolescentes          com          conhecimento sobre Deus, pensando que assim estamos fazendo o          melhor para o seu          bem, corremos o risco de estabelecer um padrão relacional          ancorado na mera          racionalidade, um padrão fragilíssimo para enfrentar o mundo em          que vivemos.
          
          Experimentação pessoal da fé: lembro-agora de Jó e sua          afirmação: antes eu te          conhecia de ouvir falar, mas agora meu olhos te vêem. Acho que          Deus, por nos          conhecer a fragilidade, acompanha nossos estágios de compreensão          e          experimentação da fé. Ele aguarda por nós e nos alcança com a          linguagem que          compreendemos dentro contexto que vivemos e nas limitações do          nosso desenvolvimento.          Infelizmente, não somos assim tão respeitosos com nossos irmãos          e temos a          perniciosa tendência de esperar e desejar respostas          padronizadas.
          
          Acho que precisamos permitir que jovens e adolescentes trilhem          sua própria          caminhada de fé e aprendam, cercados do carinho, fazendo suas          próprias          perguntas, questionando e enfrentando respostas maduras em          ambientes tolerantes          e sensíveis.

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